Padre Himalaya
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Biografia
Manuel António Gomes nasceu a 9 de dezembro de 1868 em Santiago de Cendufe, concelho de Arcos de Valdevez, no seio de uma família de agricultores pobres. Viveu a infância em casa dos avós na aldeia do Souto, perto de Cendufe. Como era vulgar na época, para aceder aos estudos foi enviado para o seminário de Braga, em 1882. E terá sido ali que um jovem chamado Roriz o alcunhou de Himalaya, devido à sua estatura invulgar. Manuel Gomes aceitou a brincadeira e adotou o nome, passando a assinar Manuel Himalaya.
Em junho de 1890, terminou o curso teológico e foi para o Colégio da Formiga, em Ermesinde, onde foi ordenado padre a 26 de julho de 1891. A investigação e o interesse pela energia solar eclodiram por esta altura.
Na Primavera de 1899, Himalaya partiu para Paris com o patrocínio de uma benfeitora, D. Emília Josefina dos Santos, e o encorajamento do bispo de Braga e do químico portuense Ferreira da Silva. Chegou à capital francesa com as obras da Exposição Universal de 1900 em curso, onde se erguia na altura a Torre Eiffel, hoje o mais famoso dos ícones da cidade.
Em 1900, começam as experiências de Himalaya com protótipos de fornos solares.
Em Castel d’Ultrera, nos Pirenéus franceses, numa região isolada, longe de olhares indiscretos, foi montado o primeiro protótipo que fazia uso de uma lente de Fresnel. Um conjunto de anéis concêntricos desviava a luz, por reflexão, para um foco colocado debaixo da “lente”. Todo o modelo era orientado para o Sol através de um sistema de carris circulares. -
Após a experiência gaulesa, o padre Himalaya aperfeiçoou a conceção de um novo forno solar que apresentou em Lisboa, na Tapada da Ajuda, mas desta vez sem sucesso. A experiência correu mal e lançou o descrédito sobre o seu trabalho. Foi assim com enorme esforço que conseguiu convencer a sua principal financiadora, a condessa da Penha Longa, a pagar o investimento da participação na Feira Mundial de St. Louis. Este era, aliás, um projeto em que Manuel Himalaya estava particularmente empenhado. Em abril de 1904, partiu para a América com o objetivo de apresentar o seu Pyrheliophero.A ideia de Himalaya era evitar que o forno fizesse sombra sobre o refletor retirando assim algum poder coletor ao engenho. Na Feira Mundial, o Pyrheliophero foi instalado entre olhares curiosos. Ali, 500 edifícios albergavam as últimas novidades do progresso científico e tecnológico.
Com o Pyrheliophero, Himalaya alegou ter atingido a temperatura recorde de 3.800º C.
Após o sucesso da Exposição de St. Louis, que teve amplo eco na imprensa, Himalaya dedicou-se a outras áreas técnicas e imaginou métodos para fazer chover, inventou um novo explosivo (a himalayite), continuou a cultivar o seu interesse pelas medicinas naturais e a defender ideias precursoras da ecologia moderna. Depois de uma vida repleta de atividade, Himalaya morreu em Viana do Castelo, a 21 de dezembro de 1933.
Destaque sobre o Pyrheliophero:
O Pyrheliophero era constituído por um grande refletor paraboloide instalado numa montagem equatorial, ou seja, rodava sobre um eixo paralelo ao eixo de rotação da Terra. Esta montagem permitia seguir o lento movimento aparente do Sol, de este para oeste, através de um mecanismo de relojoaria, e manter-se sempre apontado para o Sol com grande precisão. A superfície refletora, com uma área de 80m2, estava revestida por 6 117 pequenos espelhos, e concentrava a radiação solar num círculo com 15cm de diâmetro. A altura da estrutura era de 13m. O forno encontrava-se, como era habitual, no foco do paraboloide, ou seja, no ponto onde se concentram raios luminosos que chegavam paralelamente ao seu eixo, como acontecia com os raios solares.